O origami tem base cientifica e psicológica, ele estimula as duas áreas do cérebro, melhorando a coordenação e a concentração, permite que quem está fazendo tenha coordenação entre o olho e a mão e chegue em um nível de atenção plena similar a uma meditação.
Ele parece, à primeira vista, um universo distante da engenharia. Mas basta olhar com atenção para perceber como uma simples dobra carrega método, intenção e resultado. A arte nasceu no Japão quando o papel ainda era um luxo e dobrá-lo era quase um ritual de precisão. Séculos depois, a lógica continua a mesma: economia de meios para máxima função. Está no fecho discreto de uma caixa de leite, na forma como painéis solares de satélites se compactam para a viagem e se abrem no espaço, nos refletores que controlam e direcionam a luz e até no airbag que se guarda milimetricamente antes de inflar no momento certo. Dobras inteligentes organizam a complexidade e fazem o mundo funcionar melhor.

Na VENG, reconhecemos esse mesmo princípio no nosso dia a dia. Unimos engenharia e arte como disciplina. Um bom origami ensina que cada etapa tem motivo, que aquilo que dá certo vira padrão e que a beleza aparece quando a solução está bem resolvida. É assim que um rascunho vira projeto executivo e um processo confuso se transforma em fluxo de trabalho claro, respirando com naturalidade. Há também um efeito humano importante: ao dobrar, a mente muda de marcha. A coordenação entre olho e mão pede precisão, a sequência de passos exige foco, a ansiedade se recolhe, a paciência cresce, a criatividade encontra espaço. É quase uma conversa silenciosa entre intenção e material, e o resultado é um estado de atenção que melhora a capacidade de visualizar, planejar e executar.
A ideia é a mesma no nosso mercado: resolver complexidade com método, precisão e economia de recursos. O origami ensina a colapsar e expandir uma estrutura com controle; no audiovisual, refletores e acessórios dobráveis que controlam a luz sem peso extra, as dobras também criam rigidez direcional: com pouco material, é possível ganhar estabilidade e forma útil. Em estúdio, fundos facetados evitam ondulações, respondem melhor à iluminação e entregam um visual mais limpo; em transporte, proteções internas inspiradas em colmeia e sanfona absorvem impactos com pouco volume. A luz e o som se beneficiam diretamente dessa lógica: superfícies com cristas e vales quebram reflexões especulares e melhoram a inteligibilidade em espaços compactos.
Há ainda o paralelo de processo. Todo origami nasce de um “mapa de dobras”; no áudiovisual, nosso mapa é o intercom, roteamento, failover, redundâncias que garantem repetibilidade e reduzem erros sob pressão. A modularidade do sinal (entradas, saídas, clock e tally) espelha as peças que se encaixam em um modelo dobrado: cada etapa habilita a próxima, o sistema “desdobra” com previsibilidade. E existe um componente humano essencial: o ato de dobrar treina sequência, paciência e atenção plena. Em operação ao vivo, essa mentalidade se traduz em menos improviso perigoso, cabos roteados com clareza, gestos padronizados e times mais sincronizados.

Em outras palavras, ludicamente para quem quer experimentar, dá para ensinar e fazer um tsuru em poucos minutos. Comece com uma folha quadrada, de preferência 15 por 15 centímetros. Faça vincos nas diagonais e nas metades, abrindo entre cada um, e use esses caminhos para colapsar a folha em um quadrado menor de camadas, com as aberturas voltadas para você. Traga as laterais dessa face para a linha central como se formasse uma pipa, dobre a ponta de cima para baixo para marcar o limite e desfaça: esses pré-vincos permitem abrir a aba inferior como uma pétala, levando a ponta para cima enquanto as laterais acompanham para dentro, até achatar novamente em um diamante alto. Vire a peça e repita o processo do outro lado. Com o diamante formado, afine mais uma vez trazendo as bordas inferiores ao centro, na frente e atrás. Agora você tem duas “pernas” alongadas: escolha uma, abra um pouco a camada e faça uma dobra interna reversa para levantá-la, criando o pescoço. Repita na outra perna para montar a cauda. Na ponta do pescoço, faça uma pequena dobra reversa para o bico. Por fim, abaixe as abas superiores largas para formar as asas e ajuste os alinhamentos. Se quiser dar volume, puxe as asas levemente para inflar o corpo. Quando os pré-vincos estão bem marcados e o eixo central está respeitado, tudo se encaixa com naturalidade; se algo escapar, volte um passo, reforce o vinco e tente de novo. A experiência vale tanto quanto o resultado.

Para quem busca a ponte direta com a engenharia, a dobra Miura é um excelente experimento de mesa. Ela é um padrão de paralelogramos que permite compactar e descompactar uma superfície inteira com um único gesto coordenado. Em vez de decorar instruções, pense no raciocínio: primeiro crie um conjunto regular de vincos paralelos, depois estabeleça uma segunda família de vincos também paralelos, mas ligeiramente deslocados em relação à primeira. Por fim, alterne o sentido de relevo, alguns como vale, outros como montanha para que a folha passe a abrir e fechar como um acordeão, expandindo e recolhendo de forma previsível. A beleza da Miura-ori está no fato de que a implantação acontece de uma vez só, com repetibilidade e economia de espaço, exatamente o tipo de solução que inspira mecanismos em painéis solares, estruturas retráteis e sistemas compactáveis.
É a mesma lição em diferentes escalas, a inovação não nasce do exagero, mas do essencial. Ver melhor, planejar melhor, executar melhor. Uma dobra por vez. É justamente assim que trabalhamos, transformando complexidade em estrutura, intenção em entrega e técnica em experiência, com método, precisão e um toque simplicidade.


